A Doação autóloga pré-operatória

por | jun 25, 2025

A doação autóloga pré-operatória, também conhecida como pré-depósito, consiste na coleta/doação de sangue pelo próprio paciente antes do procedimento cirúrgico. Este sangue é cuidadosamente coletado, processado e armazenado para ser utilizado, se necessário, durante ou após a cirurgia. Este método garante que o sangue do próprio paciente esteja prontamente disponível, reduzindo a necessidade de transfusões sanguíneas alogências.1,2

Para a realização do procedimento de doação autóloga pré-operatória é necessária uma solicitação formal de doação/transfusão autóloga assinada pelo médico do paciente, que encaminhará esse paciente-doador para o serviço de hemoterapia que possui contrato hemoterápico com a instituição onde será realizado a cirurgia. No serviço de hemoterapia o paciente-doador será avaliado por um médico quanto aos critérios de aceitação e de rejeição de doadores autólogos. As contraindicações absolutas, descritas na norma técnica em vigor1 são: a) insuficiência cardíaca descompensada; b) estenose aórtica grave; c) angina pectoris instável; d) infarto agudo do miocárdio nos últimos 6 (seis) meses; e) acidente vascular cerebral isquêmico nos últimos 6 (seis) meses; f) alto grau de obstrução da artéria coronária esquerda; g) cardiopatia cianótica; h) presença de infecção ativa ou tratamento antimicrobiano (enquanto persistir esta condição). Além destas, cada serviço pode estabelecer contraindicações adicionais. 

Os valores de referência da hemoglobina ou hematócrito do doador-paciente são um mínimo de 11g/dL ou 33%, respectivamente, bem inferiores àqueles utilizados para a doação de sangue convencional.

A frequência das doações autólogas é determinada pelo médico hemoterapeuta do serviço de hemoterapia fornecedor de hemocomponentes. Entretanto, o intervalo entre cada doação autóloga (se for mais de 1 doação) não deve ser inferior a 7 (sete) dias e não pode exceder o tempo de preservação da bolsa coletada (21 a 42 dias). A última coleta deve ser realiza com intervalo igual ou superior a 72 (setenta e duas) horas anteriores à cirurgia.1,2 

Idealmente, este paciente-doador deve receber suplementação de ferro associada ou não à estimulação da eritropoese com eritropoetina no período da coleta. Isso possibilita uma otimização da massa eritrocitária e a manutenção adequada dos parâmetros hematológicos.2

Cada bolsa de sangue coletada dever receber uma identificação especial, contendo o nome completo do doador-paciente, o nome da unidade de assistência à saúde onde ele será submetido ao procedimento cirúrgico e o número de registro do doador-paciente no serviço de hemoterapia. 

Quanto aos exames laboratoriais serão realizados os mesmos de uma doação alogênica, ou seja, testes imuno-hematológicos e testes de triagem para detecção de infecções transmissíveis pelo sangue. É importante ressaltar que mesmo com algum dos testes para infecções transmissíveis reagentes (positivos ou inconclusivos), para qualquer das infecções testadas, o sangue coletado poderá ser transfundido no paciente.1 Contudo, nestes casos, a bolsa contendo o sangue recebe uma identificação extra, com etiqueta especial, indicando a situação de risco e deve haver concordância explícita com a realização do procedimento, por escrito, pelo médico assistente responsável pelo tratamento do paciente e pelo médico do serviço de hemoterapia.1,3

Na Agência Transfusional esta bolsa deve ficar segregada em local específico para armazenamento de bolsas para uso autólogo, identificada com os dizeres “Doação Autóloga” e utilizada apenas para transfusão autóloga. Não é permitida a migração de bolsas de componentes sanguíneos autólogos para uso alogênico.1 

Para liberação do sangue coletado para uso clínico é necessário o envio de uma amostra pré-transfusional do paciente-doador para a realização dos testes imuno hematológicos do receptor, ou seja, tipagem ABO/RhD e pesquisa de anticorpos irregulares. Todavia, a realização do teste “prova cruzada” é facultativa. 

Vantagens da doação autóloga:

  • Previne a transmissão de doenças por transfusão. 
  • Previne a aloimunização contra antígenos eritrocitários presentes nas hemácias. 
  • Não depende de sangue alogênico.
  • Fornece sangue compatível para pacientes com múltiplos aloanticorpos ou fenótipo raro. 
  • Previne diversas reações adversas à transfusão. 

Desvantagens da doação autóloga:

  • Procedimento trabalhoso, em especial pelo pouco uso das instituições brasileiras.
  • Não impede todas as reações adversas relacionadas à transfusão, como por exemplo, a sobrecarga volêmica e a contaminação bacteriana.
  • O paciente pode evoluir com anemia se não for bem conduzido durante o período da realização da(s) coleta (s). 

Em geral, o uso isolado da coleta de sangue autólogo pré-operatória proporciona benefício relativamente pequeno na redução da probabilidade de transfusão alogênica. Portanto, idealmente, deve-se combinar as coletas com a reposição de ferro e o estímulo da eritropoese.

Por fim, todo serviço de hemoterapia deve possuir um protocolo escrito contendo os procedimentos relativos à transfusão autóloga e ter um médico responsável por este programa na instituição. 

Esperamos que tenham gostado.

Até uma próxima!

Equipe Erytro

Bibliografia:

  1. Brasil. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria de Consolidação nº 5. Consolidação das normas sobre as ações e os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde. ANEXO IV – DO SANGUE, COMPONENTES E DERIVADOS (Seção XIV. Sangue Autólogo). Fica instituído o regulamento técnico de procedimentos hemoterápicos. Brasília: Diário Oficial da União, poder Executivo; 03 out 2017. Seção 1, Suplemento – p. 360. Disponível em: Ministério da Saúde (saude.gov.br) , último acesso em 19/06/2025.
  2. Goodnough LT. Autologous blood donation. Crit Care. 2004;8 Suppl 2(Suppl 2): S49-52. DOI: 10.1186/cc2408. Epub 2004 jun. 14. PMID: 15196325; PMCID: PMC3226143.
  3. Debra A. Kessler, RN, MS, and Susan N. Rossmann; CHAPTER 5 Allogeneic and Autologous Blood Donor Selection. In. Cohn C.S., Delaney M., Johnson S.T., Katz L.M Technical Manual. Bethesda: AABB. 20th ed. 2020. P127-140.

Inativação de patógenos

O tema do nosso conteúdo livre de hoje é: Inativação de patógenos.

Lavagem de Hemocomponentes

O tema do nosso conteúdo livre de hoje é: Lavagem de hemocomponentes

Existe plaqueta de uso universal?

O tema do nosso conteúdo livre de hoje é: Existe plaqueta de uso universal?