A pesquisa de anticorpos irregulares, também conhecido como Coombs Indireto é um teste imuno-hematológico que tem o objetivo de identificar a presença de anticorpo(s) no plasma/soro. O teste é utilizado em banco de sangue, agências transfusionais e na rotina laboratorial com acompanhamento das gestantes. No pré-natal, esse teste deve ser solicitado na primeira consulta e, nos casos em que a gestante não é sensibilizada, deverá ser repetido com 27 semanas. Segundo a Diretriz Brasileira Aloimunização Rh na Gestação, essa avaliação é recomendada apenas nas gestantes RhD negativo. No entanto, além do anticorpo anti-D, do sistema Rh, há outros aloanticorpos capazes de realizar hemólise nas hemácias do feto/recém-nascido, tais como anti-Rh (C), anti-Rh (c), anti-Rh (E), anti-Rh (e), antiKell, anti-Duffy ou anti-Kidd.
Quando se constata a presença de um anticorpo no pré-natal é importante se identificar a especificidade do anticorpo envolvido, a imunoglobulina relacionada e se esse anticorpo possui importância materno-fetal. Apenas se o anticorpo envolvido for clinicamente significativo na doença hemolítica do recém-nascido iremos titular lo(s). A técnica padrão de titulação é em “tubo”, sendo adequado realizar as titulações em uma mesma instituição durante todo acompanhamento pré-natal da gestante, a fim de evitar interpretações erradas. O cutoff da titulação do anticorpo também depende do anticorpo envolvido, por exemplo: gestante sensibilizada por anti-D, considera-se um título perigoso ≥1:16, já as gestantes sensibilizadas por anti-K ≥1:8 já possui risco aumentado de anemia fetal.
As estratégias para prevenir aloimunização materna podem ser divididas em duas categorias, uma geral e outra específica na aloimunização anti-D. Na prevenção geral se concentra em interromper a aloimunização de todas as mulheres com potencial para engravidar, reduzindo a exposição a antígenos eritrocitários. A portaria da consolidação número 5 da saúde, orienta fornecer hemácias do grupo O, Rh (D) -negativos e plaquetas Rh (D) –negativas produtos para mulheres Rh (D) negativas com potencial para engravidar, em instituições com maior cuidado imuno-hematológico, incluem nessa rotina a compatibilização do antígeno Kell para transfusão de hemácias para esse grupo de mulheres. Já a prevenção da aloimunização anti D, é realizada com a administração de imunoglobulina anti-D em gestantes Rh negativas não sensibilizadas na 28ª e 34ª semanas e/ou 72 horas do pós-parto de recém-nascidos RhD positivo, a depender do protocolo institucional.
Escrevemos esse texto com o objetivo alertar o leitor sobre a importância de realizar um acompanhamento pré-natal adequado, entendendo um pouco da triagem dos anticorpos irregulares, que não se restringem apenas ao anticorpo anti-D. Existem vários anticorpos capazes de atravessar a barreira hematoplacentaria e realizar hemólise nas hemácias do feto e/ou recém-nascido.
Então, toda mulher, em especial as que já transfundiu e/ou teve uma gravidez prévia, indiferente do grupo sanguíneo pode aloimunizar. Por fim, para todo teste de “Coombs indireto” positivo deve se avaliar a especificidade do anticorpo envolvido, o seu potencial hemolítico e apenas com essas informações conhecidas, seguir com a titulação do anticorpo e formular um plano de acompanhamento materno-fetal adequado.
Até a próxima,
Equipe Erytro.
Bibliografia consultada:
1. Brizot ML, Nishie EN, Liao AW, Zugaib M, Simões R,. Projeto Diretrizes Aloimunização Rh na Gestação, Autoria: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Outubro de 2011. https://diretrizes.amb.org.br/_BibliotecaAntiga/aloimunizacao_rh_na_gestacao.pdf
2. S. Lurie, E. Eliezer, I. Piper & I. Woliovitch (2003) Is antibody screening in Rh (D)-positive pregnant women necessary?, The Journal of Maternal-Fetal & Neonatal Medicine, 14:6, 404-406, DOI: 10.1080/14767050412331312260
3. Gupta, G. K., Balbuena-Merle, R., Hendrickson, J. E., & Tormey, C. A. (2020). Immunohematologic aspects of alloimmunization and alloantibody detection: A focus on pregnancy and hemolytic disease of the fetus and newborn. Transfusion and Apheresis Science, 102946. doi:10.1016/j.transci.2020.102946