Hemoderivados são medicamentos produzidos pelo fracionamento industrial do plasma humano. Esse, por sua vez, é obtido a partir das doações de sangue. Depois coletado, o sangue total é processado nos Serviços de Hemoterapias, originando até quatro tipos de hemocomponentes: concentrado de hemácias, concentrados de plaquetas, Plasma Fresco Congelado (PFC) ou crioprecipitado.
Acredita-se que, no Brasil, há um consumo transfusional de aproximadamente 20% do PFC produzido. Sendo assim, há um grande excedente desse componente, o qual pode ser direcionado para a indústria farmacêutica com o objetivo de produzir hemoderivados.
Essa manufatura do plasma foi iniciada na Segunda Guerra Mundial com Cohn e colegas, os quais desenvolveram técnicas que permitiram a separação de proteínas do plasma em frações individuais e estáveis, com diferentes funções biológicas. O Cohn fractionation process foi aprimorado, e seus princípios são aplicados até os dias de hoje na produção de hemoderivados. Esse processo de fracionamento de Cohn, originalmente desenvolvido na década de 1940, envolvia a modificação do pH, a concentração de etanol e a temperatura do plasma para separar suas proteínas por precipitação em cinco “frações” (I-V). Na indústria moderna, foram acrescentadas técnicas de inativação de patógeno, deixando o produto mais seguro do ponto de vista infeccioso, e técnica de cromatografia, que auxilia na identificação e separação precisa de componentes de uma mesma mistura.
Os principais hemoderivados produzidos:
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As Imunoglobulinas são produzidas pelos plasmócitos, derivados dos linfócitos B, e são as responsáveis pela imunidade humoral. Elas se unem aos antígenos, neutralizando-os. Há dois tipos de imunoglobulinas, as poliespecíficas, que podem ser utilizadas para controle imediato de doenças autoimunes em atividade, infecções bacterianas e virais. E as imunoglobulinas específicas, por exemplo, a anti-D, que são utilizadas para uma situação específica, com tempo de infusão pré-estipulado.
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Albumina foi criada em 1940 como uma terapia de reposição de volume para perda de sangue, fluído em cirurgias ou situações de trauma. Atualmente, é utilizada em pacientes cirróticos, com doenças hepáticas e, principalmente, como solução de troca na plasmaférese terapêutica.
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Fatores de coagulação são concentrados de fator de coagulação único (como concentrados de fator VIII para o tratamento da hemofilia A, concentrado de fator IX para o tratamento da hemofilia B e os concentrados de fator de Von Willebrand associados ao fator VIII para tratamento de portadores da doença de Von Willebrand, entre outros) ou um concentrado de um conjunto de 3 a 4 fatores de coagulação, os chamados concentrados de complexo de protrombina, que são utilizados em hemorragia dos hepatopatas e usuários de cumarínicos com sangramento.
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Outros hemoderivados, como alfa-1-antitripsina, antitrombina III e inibidor da esterase C1, são produtos menos comuns por causa da própria raridade de doenças que esses produtos tratam.
O custo desses produtos são bastantes elevados, pois são de origem humana, e necessitamos de muitos de litros de PFCs para produção de uma dose terapêutica. Por isso, com o objetivo de reduzir a dependência externa do Brasil no setor de hemoderivados, foi criada a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobras). Essa empresa é uma estatal vinculada ao Ministério da Saúde, localizada no estado de Pernambuco, fundada em 2004, e está em expansão até os dias atuais. Quando finalizada, produzirá 6 tipos de hemoderivados: Albumina, Complexo Protombínico, Fator VIII e IX, Fator de von Willembrand, Imunoglobulina e o Fator VIII recombinante.
Ressaltamos a importância da produção e distribuição adequada de hemoderivados, que garantem uma concentração adequada de fatores de coagulação, albumina e imunoglobulinas. Os fatores são mais eficazez, seguros e com maior validade que utilizarmos a transfusão de componentes plasmáticos. Além do mais é de fácil armazenamento e manejo, esses produtos mudaram e mudam a sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes portadores de hemofilias, doenças de Von Willebrand, imunodeficiência comum variada, além de outras doenças genéticas que necessitam de uma reposição contínua de fatores de coagulação..
Até a próxima.
Equipe erytro
Bibliografia:
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Novaretti, M. C., & Dinardo, C. L. (2011). Immunoglobulin: production, mechanisms of action and formulations. Revista brasileira de hematologia e hemoterapia, 33(5), 377–382. https://doi.org/10.5581/1516-8484.20110102
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Informações relacionadas a Hemobras, disponível https://www.hemobras.gov.br/, última visualização 06/12/20 às 13:00 horas.
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